Editorial
Outro episódio difícil de engolir na política
Há uma semana, este mesmo espaço de Editorial do DP destacava a ação do governador Eduardo Leite (PSDB) de rever decisão, equivocada, de não receber e acompanhar representantes do governo federal que visitaram o Estado para ver de perto a situação da estiagem e anunciar medidas de mitigação aos danos. Inicialmente, o chefe do Executivo gaúcho havia informado que não estaria com os ministros em Hulha Negra por ter sido convidado de última hora - o que de fato ocorreu, um erro do Planalto - e por ter outras agendas em Porto Alegre. O que foi classificado, aqui, como uma batalha de egos em que todos os cidadãos só têm a perder. Tanto a sinalização (depois revertida) de Leite, quanto a falha federal de informar por último a agenda à principal autoridade do governo gaúcho.
Pois novamente o ruído entre governos federal e estadual se deu. Após confirmar na manhã de terça-feira a Leite que a audiência solicitada com o presidente Lula (PT) para tratar da seca no Rio Grande do Sul ocorreria no fim da tarde de quarta, o Palácio do Planalto simplesmente desmarcou o encontro na noite da mesma terça, horas antes do governador, já com a viagem agendada, embarcar para Brasília. Pelo que se tem notícia, o motivo do cancelamento da reunião não ficou plenamente justificado pela equipe presidencial.
A situação embaraçosa, no entanto, foi ainda pior. Afinal, uma vez que possuía documentos e relatórios sobre a estiagem em mãos e estava na capital federal, o governador passou a tentar encaixar encontros com ministros próximos ao Planalto e com algum poder de definição de ações práticas sobre o problema gaúcho. Bateu na trave em quase todas as tentativas, à exceção da Secretaria de Assuntos Federativos. Enquanto isso, a agenda de Lula apontava como último compromisso do dia um encontro às 17h com o delegado da Polícia Federal Luiz Fernando Correa, cotado para receber indicação para comandar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Depois disso, agenda presidencial vazia.
Embora estes descompassos dos últimos dias estejam parecendo mais do que simples falhas de comunicação ou eventuais contratempos, indicando arestas ainda não aparadas de disputas políticas - críticas históricas do PT ao PSDB e vice-versa, com Leite atacando o PT e, em 2018, apoiando Bolsonaro -, a liturgia dos cargos exige certa grandeza que ultrapasse eventuais picuinhas (se é que de fato existem e estão por trás dos recentes episódios). É preciso repetir: a população espera diálogo, entendimento e cooperação entre seus representantes. Soluções. Parece óbvio, mas diante do que se vê em alguns casos, nem sempre está claro àqueles que deveriam ter isso em mente.
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